28 de fevereiro de 2008



Uma simples guitarra pode ter poderes incríveis...

...Apenas uma guitarra pode unir aqueles que por variados motivos não se entendiam. Sejam quais forem as razões do desentendimento, as notas dedilhadas e acordes infinitos apagam todas as diferenças, enquanto as vozes se encaixam - para além de tudo o resto que se encaixa e se liga entre nós.

A harmonia que se forma é mais interior do que exterior, porque se descobrem gostos comuns, aproximam-se os sentimentos e combinam-se os desejos como as melodias que são cantadas e tocadas.

Muitos dos melhores momentos da minha vida foram acompanhados por este objecto que entusiasma quem toca e quem canta, provoca lágrimas nos que se esforçam por se fazer ouvir mas também nos que simplesmente se emocionam a escutar. Muitas das memórias mais bonitas que tenho são fruto do som de uma guitarra e dos sentimentos que ela transmitiu na altura.

Se uma guitarra se alia a quem a toca de tal forma que se torna uma terapia, então se mais pessoas se juntam provoca tal emoção que é difícil de explicar por palavras. Por mais que o passado possa doer, ou por muitos motivos que existam para guardar rancor, nesse momento tudo isso se desvanece.

Porquê?
Não sei...
Mas a guitarra arranca gargalhadas e cria olhares cúmplices, sorrisos e lágrimas.
A guitarra provoca gestos íntimos e cria amizades, tudo isto como poucos momentos o conseguem.

Qualquer que seja a razão, este objecto pode marcar directa ou indirectamente, quem toca ou quem ouve, para a vida.

27 de fevereiro de 2008







« All I can do is be me.
Whoever that is. »
Bob Dylan









Muitos lutam por mascarar aquilo que são. Talvez nenhum de nós seja totalmente genuíno e autêntico, pois somos o resultado de uma interminável soma de factores e cada vez mais somos forçados a pertencer ou acreditar em algo mais amplo que nós.

Enquanto uns não conseguem evitar ser quem são, outros de tudo fazem para ocultar precisamente aquilo que faz deles seres únicos. Incluídos nestas categorias ou em nenhuma delas, encontram-se outros, cuja procura inacabada de si mesmos não permite sequer que entendam o seu próprio eu.

Desta procura, fazem parte as contradições de não se saber ainda quem se é em que se acredita. Experimentamos e erramos, mentimos a nós próprios e, a pouco e pouco, descobrimos "a nossa verdade". A partir daí, aceitar ou não essa verdade depende da relação que temos com ela, do sentimento que nutrimos por nós próprios.

Não podemos ignorar de onde vimos, independentemente de onde iremos. E fingir o que não somos? Até é possível, mas não sem sofrermos porque cada atitude que tomamos tem de ser infinitamente calculada e estudada. Quem consegue ser assim durante muito tempo?

Talvez não seja assim tão importante definirmos a nossa forma de ser. Será realmente relevante que coloquemos uma etiqueta na testa com uma qualidade ou defeito, uma idelogia ou grupo em que supostamente estamos incluídos? E se, ao assumir uma variedade de características que possuímos, nos indentificarmos com pessoas das mais variadas origens?
E se quisermos rotular-nos simplesmente com a palavra "EU", porque é ela que nos distingue de todos os outros e sintetiza toda a nossa essência?
Se é com esse eu que teremos de conviver durante uma vida inteira, porque não fazer de nós o melhor que pudermos?

20 de fevereiro de 2008

Hit the road.



Ela caminha sem destino, sem qualquer noção do ponto de chegada.
O único ponto de referência? - Apenas a dor aguda de saber o que já não tem.
Caminha, sem saber onde está ou como foi ali parar.


Há um tempo atrás, ficaria parada, imóvel, aterrada. Sem ninguém que a acompanhasse, ninguém que a compreendesse, de que valia andar sem rumo? De que serviria continuar a andar, se dar um simples passo era tão doloroso?


Com o passar dos dias, os seus sentidos despertaram, até que a luz de saber quem era iluminou aquela estrada.
E descobriu a delícia de caminhar, somente caminhar.


Todos os deambulantes desconhecidos que encontrasse, daí em diante, seriam bem-vindos a acompanhá-la. Porque não aceitar a mão mágica do destino, que a presenteava com estas amizades súbitas?


Inevitavelmente, alguns dias eram mais sombrios do que outros, e a dor daquelas ausências nunca cessou. Ainda persiste, viva na sua memória e marcada no caminho que ela percorre.
No entanto, os espaços vazios têm sido, a pouco e pouco, preenchidos com novas vidas, que são agora a resistência das suas pernas e o fôlego dos seus pulmões.
E à medida que caminham - ela e os que vão chegando e ficando -, vão experimentando o prazer de andar lado a lado, recordando o que já foi e o que poderá vir a ser.

14 de fevereiro de 2008

O mundo gira à minha volta e eu páro no tempo, tentando guardar comigo todas as gargalhadas, rostos, todas as pessoas que não quero que sejam efémeras, pelo menos na minha memória. Já o aceitei: os tempos mudam, as pessoas também. E eu mudo porque tudo muda, necessariamente, espontaneamente.
Sem ressentimentos, recordo, e prossigo neste filme em que as personagens se transformam, em que os protagonistas não permanecem, em que até mesmo os cenários se alteram. Deixei de querer parar naquela cena de que nunca me esquecerei. Deixei de estar agarrada ao botão pause. A história deste filme está apenas no início, e de nada vale pensar se o final será feliz ou não.
Agora, procuro absorver cada cena, cada diálogo, cada pormenor visual com o máximo de atenção, registando-os na minha mente, aproveitando a delícia de cada momento. As personagens, mesmo que actuem apenas por breves momentos, serão sempre importantes, sempre recordadas pela importância que tiveram nesta história. Quanto aos protagonistas, esses são os que fazem deste filme um clássico, participando nesta história com todo o seu amor, amizade e estabilidade.
Qual é a história que não tem mudanças, altos e baixos, momentos de alegrias, desgostos, encontros e perdas? Seja o final feliz, trágico ou até algo entre ambos, são estes momentos de emoções fortes que dão sabor à história. São eles que forçam cada personagem a adaptar-se às circunstâncias e a aprender a ser felizes, novamente, sem medos.
Mais uma cena. Respiro fundo, e play...

6 de fevereiro de 2008

O fim de (mais) um ciclo?


Dantes, tudo era garantido. tudo seria, de certeza, eterno.


aprendi, depois, que nada era seguro, que em pouco tempo, muito poderia mudar. tornou-se assustador pensar que tanto se renova nuns meros meses: amizades, amores, sentimentos que queremos eternizar. planeamos o futuro como quem cegamente acredita nesses sentimentos, e depois... o vazio, o sentir-me perdida, o recomeçar de novo.

mas acabei por aceitar isto como algo natural, apesar de doloroso. afinal, todas as pessoas que foram e vieram me marcaram, e mesmo que agora não as considere como amigos, reconheço o quão foram importantes naquela altura, "naquele tempo". provavelmente, hoje nem faria sentido que fossem relevantes na minha vida.

rendo-me, então, a um ciclo: no início, experimento a felicidade de quem inocentemente acredita na palavra SEMPRE, gravo na memória todas as horas mágicas de um sentir efémero. no fim, revolto-me, porque a revolta de saber que acabou é inevitável. e a revolta tranforma-se em força, mais cedo ou mais tarde.


ergo a cabeça porque, como alguém me disse uma vez, se levantarmos a cabeça é meio caminho andado para que outros olhem para nós e possam entrar na nossa vida, no fundo, para que um novo ciclo se inicie. ironicamente, quem me disse isto é, agora, praticamente uma estranha para mim, mas guardo esta pessoa com tanto carinho que nenhum rancor persiste, nenhuma mágoa sobrevive. e seria inútil guardar tais sentimentos, porque o que aprendi com ela foi demasiado para me deixar levar por mágoas absurdas.


enfim, cada vez mais me adapto àqueles que vêm e aprendo a recordar com amizade os que já se foram. e aos que sinto irem-se embora aos poucos como o inverno suavemente se retira para a primavera, apenas posso esperar que me recordem com um sorriso nos lábios. porque de mim, só terão um sorriso para receber. mesmo se se der o fim... mesmo quando se der o fim.

1 de fevereiro de 2008

Não quero ser «demais»...

Procuro.

Procuro um sentimento que me complete, uma felicidade que perdure e não apenas um riso fugaz.
Perco-me pelo caminho. Encontros e desencontros, desilusões e arrependimentos.

Uma e outra vez, preciso de sentir-me segura de que não estou a mais, de que é com eles que quero estar, de que eles se sentem bem comigo. Não preciso que mo digam. Apenas quero ser parte integrante de uma amizade sem segredos, sem o mau-estar de ser tratada como um anexo, como alguém inútil nas conversas mais profundas, nos temas e preocupações mais importantes.

Não quero ser demais.
Não quero ser a-que-só-serve-para-de-vez-em-quando, mas acima de tudo não gosto de estar com quem não confia em mim para desabafar, com quem segreda entre si como se eu não estivesse presente... Como é desagradável ter de fingir que não se está lá!

Por isso tento, e tento outra vez, ser completa se não estiver com eles, conseguir estar sem eles, estando com aqueles que estão mesmo lá e a quem, porventura, há uns tempos não dei valor.
E, apesar de por vezes me ir abaixo, apesar de serem inevitáveis alguns tempos de solidão, os momentos que passo com uns e outros, amigos temporários ou eternos, têm sido tão bons que só posso estar feliz com esta mudança que impus a mim mesma.

Mudar é preciso, corrigir o que sabemos que está errado há muito tempo mas que implica decisões que, na verdade, não queremos tomar. Mas quando sabemos que é o melhor para nós... apercebemo-nos, com o tempo, de que ficamos mais fortes, completos, felizes.


[não vou obrigá-los a ter-me sempre com eles, porque os adoro. non-sense? ...]