17 de março de 2008

¿ Eu ?




nas alturas de conversa e interacção, sou uma.

nas horas solitárias de pensamentos inquietos e absurdos, sou outra.

ambas se conhecem, ambas convivem no mesmo corpo que parece não representar nenhuma das duas convenientemente. esse corpo está lá por estar, por mera obrigação biológica.
quanto a elas, procuram entender-se, tentam um equilíbrio ideal entre uma e outra que nunca é perfeito nem lógico. tanto uma como outra lutam por mostrar o que de melhor têm. uma e outra procuram esconder e abafar o seu lado negativo, no caso de uma; ou mais obscuro, no caso de outra.

por vezes, mais almas interferem nesta relação porque, como um dia concluí de uma conversa com uma amiga, parece que todos somos constituídos por várias pessoas que co-habitam num só corpo. e se duas já levantam problemas de cooperação e existência mútua, que havemos de fazer quando outros se erguem do inconsciente para interferir no pensamento e no ser?
o facto é que esse ser é influenciado por tantos factores, situações e pessoas que por vezes age como se fosse alguém totalmente exterior a si mesmo. quem não teve já atitudes que não consegue explicar, que não são "suas" mas de outra pessoa, de alguém estranho ao nosso suposto "eu"? por vezes até queremos, de facto, ser uma pessoa diferente, agindo propositadamente conforme aquilo que aspiramos a ser. mas será que vale a pena?

uma coisa é certa: por vezes, é inevitável o confronto com outros "eus" que não sabíamos existirem ou que estavam há muito adormecidos. é que esses "eus", um tremendo incómodo à nossa tranquilidade e sendo por vezes incontroláveis, existem — em nós. se desaparecerem, será com o tempo, naturalmente, dissipando-se na alma que cresce e se desenvolve.

eu, na consciência de ser muitos dentro de mim, apenas sou eu se eles existirem, se eles não forem ignorados ou desprezados — apesar de por vezes não gostar de nenhum, ou de querer ser o melhor de todos eles.

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