7 de março de 2008

Estilhaço do que fomos


Resta, no chão, apenas um estilhaço daquilo que fomos.


Segundo aqueles que me rodeiam, devo aproveitar esse ínfimo pedaço de um todo quebrado. Eu própria o sei: devo lutar pelo que resta de nós, e já decidi fazê-lo.

(Quando?)


Independentemente das consequências do que farei, já nada tenho a perder. Tudo o que me resta é agarrar-me a esse fragmento de uma relação sufocada.


(Como?)


Quanto a esse estilhaço, por diminuto que seja, é para mim suficiente. Antes, nada era suficiente, e a presença corpórea era uma obsessão; agora, ela é insignificante, e apenas a compreensão mútua me permitirá lembrar com carinho o que fomos. Recuso-me a lembrar algo tão inesquecível com mágoa, tristeza, inquietação!


Não sei quando, como, com que coragem vou expressar por palavras o que tenho sentido, porque raramente o faço. Aliás, nunca o faço, se as nódoas negras que me deixam são profundas. No entanto, a facilidade que tenho de escondê-las dos outros é incomparável à dor da sua impregnação na minha pele, no meu ser.


E por isso vou obrigar-me -- de que maneira não sei, nem sei com que força -- a falar disto, a expressá-lo.



(Sim, sei que existimos. Algures, ainda existimos...)

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